Vida de Cão?
Era uma manhã de sol aqui pelas bandas do Bairro Alto.
Acordei dando bom dia, talvez a mim. Dei uma enorme espreguiçada; primeiro estiquei as patas da frente e depois as de trás, ouvindo uma música do ar. Talvez, meu sonho ainda estaria a continuar.
Fui andando sem rumo. Ora farejava ali, outrora acolá, como que desejasse bem à vida. Às vezes tomava uns sustos dos cães maiores que me encaravam, até latiam. Era o momento de correr e, garantir a vida e, isto não é vergonha.
De repente, cheguei num portão enorme. Entrei, sorrateiramente, e vi do meu lado esquerdo um gramado verdinho e bem cuidado, atletas corriam atrás de uma bola, e por vezes me deu vontade de adentrar naquela brincadeira e correr atrás da bola também. Mas o momento era de prudência, pois, eu era novo naquele espaço. A curiosidade me fez desbravar aqueles espaços e outros, como se eu estivesse a viajar pelo mundo, em primeira classe, é claro!
Segui em frente e, meio ofegante, sentei para descansar e observar uns jogos aonde a bolinha era menor, mais veloz e colorida. De um lado e de outro a pequena esfera era racateada.
Nesta brincadeira de olhar os jogos, o silêncio imperava e os atletas não ficavam pedindo a bola como naquele outro jogo lá de cima. Fiquei a pensar, por que será?
Nem senti o tempo passar, pois tirei uma boa soneca perto do bistrô. Era meio da tarde e fui dar uma volta pelas ruas, quando num momento de pura distração, senti algo batendo nas minhas patas de trás. Meu coração acelerou, senti uma saliva amarga entre meus caninos e a dor me impedia de levantar. Os carros desviando do meu corpo naquele asfalto quente. E eu a pensar na vida!
Até que senti mãos amigas me socorrendo. Colocaram meu corpo lindo, mas ali estragado por um para-choque. Enquanto o homem dirigia, outra voz me ecoava com lágrimas nos olhos para eu não me preocupar, que tudo iria ficar bem.
E foi um alívio para minha dor!
Logo chegamos numa clínica veterinária. Senti que cortaram os pelos das minhas patas e colocaram agulhas; foi quando, pela primeira vez, vi meu um líquido vermelho escorrer. Em seguida, com todo cuidado, me levaram para outra sala. E lá fiquei por dois dias. Quero agradecer aos sócios Maurício (tenista), à Jo (do beach), à Dra. Thayna Schumann (da Clínica) e os demais sócios do nosso clube por me ajudarem naqueles momentos.
Como dizem: “do limão se faz a limonada”.
Hoje moro num paraíso, na sede Olímpica da Sociedade Thalia e recebo carinho, almoço e jantar. Ando pelos grupos, assisto aos jogos e tenho até uma coleira gravada com meu nome. Imaginem só! Eu me chamo Caramelo.
Obrigado Thalia, obrigados sócios por ter uma vida tão boa de cão.
Que outros animais tenham a mesma sorte que eu e sejam adotados, resgatados e amados como eu, aqui neste paraíso, onde recebo, amor e muito carinho. Assim, procuro ser doce como o meu nome, um Caramelo, que sobreviveu graças ao amor. Minha externa gratidão e lambidas.
Autores: Marcos Gadotti e Anita Zippin.